terça-feira, 3 de novembro de 2009

Diário de Notícias, 2 de abril de 1964

"À partir da tarde de ontem, principalmente depois que desceram os tanques da Vila Militar, dez dos quais foram colocados em frente ao Ministério da Guerra, onde também se encontram numerosos carros blindados e de combate, a crise político-militar pareceu assumir aspectos realmente perigosos, com a cidade sob o domínio de grande tensão e povo como que à espera de uma revolução a qualquer momento.

Á margem dos preparativos da população como que para prevenir-se, sacando nos bancos e adquirindo mantimentos, ocorreram diversos incidentes entre populares e policiais, e dos quais o de maior gravidade se verificou na Federação dos Estivadores, na rua Santa Luzia. Á esta altura, em consequência da paralisação dos trens da Central e da Leopoldina, respectivamente, às 17h30m e às 19h30m, a cidade parecia em colapso no setor de transportes, com grandes filas se formando ao longo dos pontos de ônibus e lotações para a Zona Norte e cidades fluminenses. As sédes das ferrovias e os demais próprios federais passaram, então, a ser guarnecidos por tropas do Exército. A tensão crescia à medida que circulavam as notícias sôbre a situação em Minas, onde já se teria iniciado a revolução. Tôda Minas, principalmente a capital e cidades como Governador Valadares e Juiz de Fora, já anteriormente agitadas, estavam, segundo os comentários, "pegando fogo". As rodas de populares discutindo política se formavam e não eram poucos os incidentes registrados entre os mais exaltados."

"A perspectiva mais alarmante da situação brasileira funda-se num dado concreto que não é possível obscurecer. É o fato de que jamais em nossa História, e até o presente, as esquerdas radicais - nomeadamente o comunismo e suas clássicas correntes auxiliares - estiveram tão à vontade, desfrutaram tanto prestígio e aproximaram-se tanto do êxito quanto no momento atual.

Por mais que negaceie, tergiverse e dissimule, o Sr. João Goulart, ninguém poderá negar - porque está à vista de todos, porque é público e ostensivo - que os elementos chamados de "formação marxista" não somente conseguiram infiltrar-se fàcilmente em todos os postos, como também são os preferidos pelo govêrno para êsses postos, sobretudo os de comando e de direção.

Atualmente, no presente govêrno, que ainda se diz democrata, a ideologia marxista e mesmo a militância comunista indisfarçada constituem recomendação especial aos olhos do govêrno. Como se já estivéssemos em pleno regime "marxista-leninista", com que sonham os que desejam incluir sua pátria no grande império soviético, às ordens do Kremlin. (...)"
Diário de Notícias, 1 de abril de 1964



"Enquanto o Congresso Nacional iniciava, em plena madrugada, em Brasília, a votação do "impeachment" do Sr. João Goulart, homiziado no sul, numa sessão tumultuada pela oposição do PTB, que ameaçava ir até o esfôrço físico para impedir o debate da matéria, o general Amauri Kruel chegava a São Paulo para conferenciar com o governador Ademar de Barros e ultimar os preparativos para os deslocamentos das tropas que deverão seguir para o Rio Grande do Sul a fim de esmagar o último foco de rebelião concentrado em Pôrto Alegre, sob o comando do Sr. João Goulart e Leonel Brizola.

Ao mesmo tempo, deverão ser abastecidos, hoje, em Santos, os três navios da esquadra, Tamandaré, Pará e Amazonas, que segundo se anuncia, sob o comando geral do almirante Sílvio Heck, rumam para o sul a fim de cooperar no completo esmagamento dos insurretos.

Ao mesmo tempo, por ordem do Sr. Ademar de Barros, começa hoje em São Paulo, o racionamento de gasolina fixado em 70% para as indústrias e transportes coletivos e, em 30% para os carros particulares. A medida vai afetar profundamente o abastecimento de Brasília uma vez que o govêrno do Estado requisitou todos os estoques que transitam em direção à capital federal."

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